Famílias enlutadas

QUANDO ALGUÉM QUERIDO FALECE

“Não se perturbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas, pois vou preparar-vos um lugar” (Jo 14,1)

A perda de alguém querido quebra nossa rotina e costuma ser um dos momentos mais difíceis. O luto é um processo natural de superação da ausência física do ente querido. Ele varia de acordo com a estrutura psicológica, emocional e espiritual de cada pessoa. Geralmente é vivenciado em 5 fases: NEGAÇÃO, RAIVA, NEGOCIAÇÃO, DEPRESSÃO e ACEITAÇÃO, não necessariamente nesta ordem ou na sua totalidade.


NEGAÇÃO – É o momento em que a dor da perda é tão grande, que nos parece impossível suportá-la. A negação é uma defesa da nossa mente, em busca de aliviar a dor. Nesse estágio é comum que não queiramos falar sobre o assunto. Tentamos esquecê-lo. Não queremos acreditar na situação vivida. Nos perguntamos: “Isso não pode ser verdade!”.


RAIVA – Essa emoção pode surgir junto com a inveja, quando recusamos a acreditar na perda. Pensamos: “Por que comigo?”. Qualquer palavra de conforto pode nos parecer falso e difícil de ser aceita. Perdemos a calma quando falamos sobre o assunto, evitamos o tema e resistimos aos conselhos que nos são oferecidos.


NEGOCIAÇÃO – Ocorre quando começamos a encarar a hipótese da perda e, diante disso, tentamos negociar para que esta não seja verdade. Buscamos fazer algum tipo de acordo, de maneira que as coisas possam voltar a ser como era antes. Essa negociação, geralmente, acontece dentro de nós ou, às vezes, voltada para a religiosidade.


DEPRESSÃO – Pode surgir quando tomamos consciência de que a perda é inevitável e que não teremos mais a pessoa querida conosco. Sentimos um vazio físico e emocional e percebemos que não há como mudar a situação. Com a ausência da pessoa, todos os sonhos, projetos e lembranças associadas a ela, passam a ter uma outra dimensão. Experimentamos um sofrimento profundo. Tristeza, culpa, desesperança e medo se fazem presentes. Impotentes diante da nova situação, nos isolamos e ficamos mais introspectivos.


ACEITAÇÃO – Nessa fase aceitamos a perda com paz e serenidade. Isso é possível quando temos a capacidade de mudar nossa perspectiva e preencher o vazio, com a ajuda da religiosidade e o fortalecimento da fé que nos reergue. Confiando em Deus como apoio, temos uma nova visão sobre o que foi experimentado. No lugar de lamentarmos a perda, passamos a agradecer pelos momentos vividos com o ente querido. Valorizamos mais aqueles que ainda estão ao nosso lado.


Oração da esperança

Senhor, Tu conheces o momento que estou vivendo e o que eu sinto em meu coração, por isso eu coloco a minha vida em Tuas mãos. Que eu seja capaz de fazer a Tua vontade com fé e esperança no dia de amanhã. Ajude-me a crer que um dia a tristeza vai passar e restará apenas a saudade como sinal do amor que jamais passa. Iluminai minha vida, pois desejo viver e valorizar a vida daqueles que ainda estão ao meu redor. Quero permanecer em Tua presença para sentir a Tua amizade. Senhor, que a Tua benção me sustente e fortaleça. Amém!


Sinal de esperança

Nossa fé católica é alicerçada na Ressureição do Senhor. Cremos na vida eterna! Fomos criados a imagem e semelhança de Deus não somente para os poucos anos de vida terrena, mas sim para a vida eterna. A Igreja nos oferece os meios para obtermos a Salvação. Ela também está presente em todos os momentos da nossa vida, bem como na perda de nossos entes queridos. Sendo assim, a Pastoral da Esperança, acompanha as pessoas no momento da dor da perda. Leva aos familiares e amigos a mensagem da esperança e o reavivamento da nossa fé. A missão dessa pastoral, portanto, é animar as pessoas para que, não se deixem abater e recobrem o sentido de viver, renovando a esperança e a fé na vida eterna.


E quando morremos?

Na morte, o justo se encontra com Deus, que o chama para junto de Si a fim de torná-lo participante da vida divina. Contudo, ninguém pode ser acolhido na amizade e na intimidade de Deus se antes não for purificado por Ele das consequências pessoais de todas as suas culpas. A Igreja denomina purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados (…). Daí o piedoso costume dos sufrágios pelas almas do Purgatório, que são uma urgente súplica a Deus para que tenha misericórdia dos fiéis defuntos, purifique-os com o fogo da sua caridade e os introduza em seu Reino de luz e de vida


O que é o purgatório?

Embora seja imaginado como um lugar, o Purgatório é, na verdade, um estado. Quem morre na graça de Deus (isto é, em estado de graça, em paz com Deus e com os irmãos), mas ainda necessita de purificação para poder estar face a face diante Deus, passa por um Purgatório. [CIC. 1030-1031] Quando São Pedro traiu Jesus, o Senhor voltou-se e olhou para ele “e, saindo Pedro para fora, chorou amargamente” (cf. Le 22,61ss). Trata-se aqui de um sentimento “como no Purgatório”. E provavelmente a maioria de nós espera, no momento da morte, um Purgatório como este: o Senhor olha-nos cheio de amor e nós sentimos uma ardente vergonha e um doloroso arrependimento pelo nosso comportamento mau ou ‘simplesmente’ insensível. Só após esta dor purificadora, seremos capazes de nos encontrar com o seu olhar amoroso numa pura alegria celestial.


Podemos ajudar os falecidos que se encontram no purgatório?

Sim, visto que todos os batizados constituem uma comunhão em Cristo e estão mutuamente ligados, os vivos também podem ajudar as almas dos falecidos que se encontram no Purgatório. [CIC. 1032]. Quando uma pessoa morre, não pode fazer mais nada por si. O tempo da prova expirou. Mas nós podemos fazer algo pelos falecidos que estão no Purgatório. O nosso amor estende-se até o Além. Através do nosso jejum, da nossa oração, das nossas boas obras e, acima de tudo, da celebração da Santa Eucaristia podemos rogar graça para os falecidos.


Oração por um falecido

Santos de Deus, vinde em seu auxílio; anjos do Senhor, correi ao seu encontro!

Acolhei a(s) sua(s) alma(s), levando-a(s) à presença do Altíssimo. Cristo te (vos) chamou. Ele te (vos) receba, e os anjos te (vos) acompanhem ao seio de Abraão. Acolhei a(s) sua(s) alma(s), levando-a(s) à presença do Altíssimo. Dai-lhe(s), Senhor, o repouso eterno E brilhe para ele(s) a vossa luz. Descanse(m) em paz. Amém. Ouvi ó Pai, as nossas preces; sede misericordioso para com o(s) vosso(s) servo(s) N., que chamastes deste mundo. Concedei-lhe (s) a luz e a paz no convívio dos vossos santos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém


O que é indulgência?

“A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção de Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos.” “A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial ou totalmente da pena devida pelos pecados.” Todos os fiéis podem adquirir indulgências (…) para si mesmos ou aplicá-las aos defuntos.


Como alcançar a indulgência plenária?

Além de ir ao cemitério e rezar pelos falecidos é necessário:

1 – Confessar-se – Desapegar-se dos pecados veniais e mortais.

2 – Comungar – Receber a Comunhão piedosamente.

3 – Rezar pelo Papa – Pai Nosso, Ave Maria, Credo e Glória.


A dor da perda

Mesmo na certeza da Ressurreição, a perda do ente querido é um momento de muita dor. A morte de uma pessoa amada, que chegou como um ladrão durante a noite, marca um desses dias que nos faz diferentes. Algo mudou. Nós mudamos. É preciso lidar com sentimentos de choque, tristeza, raiva e até mesmo de culpa, tudo junto, e muitas vezes de forma súbita quando se trata de acidentes ou de pessoas ainda muito jovens.

Temos que aprender que, na vida, não nos pertencemos e nem somos donos de ninguém, que grande parte do nosso sofrimento é fruto do nosso apego. Não podemos impedir que a morte aconteça, mas podemos decidir que atitude assumir diante dela.

Ainda que ninguém esteja preparado para enfrentar sua própria morte ou mesmo a de um familiar, um cônjuge ou um filho, com a partida, algo novo começa. Muito além de experimentar a dor, percebemos que um novo caminho se inicia. Agora, além de reencontrar a paz e a felicidade, somos convidados a melhorar nossa humanidade.


A viuvez

Perder alguém próximo pode ser uma das experiências mais dolorosas que podemos enfrentar. Quando essa pessoa é o(a) companheiro(a) que escolhemos para compartilhar a vida, essa dor pode parecer insuportável.

Um casal é formado por duas pessoas diferentes que se tornam uma unidade. Contudo, essa união não anula cada pessoa, mas as completa. Tal unidade pode aperfeiçoar, enriquecer e dar sentido a cada um. Dois seres unidos de forma íntima e afetuosa num projeto de vida comum “até que a morte os separe”.

A morte de um dos cônjuges dá a sensação de que um projeto comum foi interrompido e ameaça a identidade do cônjuge que permanece vivo.


Como recomeçar após a perda do cônjuge?

A viuvez é um processo de luto complexo com o qual cada pessoa lida de uma forma diferente. O cônjuge vivo precisa adaptar-se, às vezes de forma repentina, à solidão. Deve assumir novas responsabilidades, aquelas que anteriormente eram da pessoa falecida. Cada um tem o seu próprio tempo e não há pressa para “ficar bem”.  Importante é não se isolar, mas buscar o apoio de parentes e amigos verdadeiros. Aos poucos é possível construir uma nova rotina, mas, se necessário, deve-se buscar ajuda profissional.

Alguns viúvos (as), provavelmente, tentarão reorganizar a sua vida afetiva. Neste caso, será necessário se reestruturar e manter a autoestima. É preciso ser prudente para não se deixar trair pela carência e ceder à tentação de entrar num relacionamento sem amor para fugir da solidão. É preciso tomar cuidado ao ouvir determinados conselhos em relação a temas que precisarão ser amadurecidos. Tudo tem seu tempo certo.

Na fé católica a espiritualidade dos viúvos é baseada na esperança da ressurreição que aponta para a vida eterna e na comunhão dos Santos. Embora a morte desfaça o vínculo matrimonial, ela não extingue o amor que se tem pelo cônjuge falecido.

Em alguns casos há viúvos(as) que não sentem a necessidade de estabelecer um novo relacionamento, encontrando, na dedicação à família, um ideal e na dedicação ao serviço da Igreja uma outra forma de direcionar seu amor em sua nova realidade.

Seguir adiante com fé e perseverança nos sacramentos, na missão e participação na comunidade restauram as várias formas de amar. A morte pode separar um casal, mas o amor em forma de saudade permanece pelo canal da oração que nos liga a Deus e ao ente querido.


Morte e ressurreição

Finados é uma data propícia para agradecermos ao Senhor pelo tempo vivido com os nossos falecidos, relembrarmos suas histórias e praticarmos suas virtudes. Na oração e na saudade, nós cristãos reconhecemos que na morte “a vida não é tirada, mas transformada”. Vivemos da fé provinda das palavras de Jesus à Marta: “Teu irmão ressuscitará” (Jo 11,23).  Contemplamos o mistério de Cristo que assumiu a condição humana até a morte de cruz. Mas, Ele ressuscitou e nos abriu as portas da vida eterna.

O cristão vive desta fé: nascemos não para morrer, mas para ressuscitar. A vida, que se inicia com a fecundação, é gestada no útero materno e desabrocha na imensidão do colo de Deus, capaz de acolher filhos e filhas amados e reconciliados.