O silêncio de Maria

Celebramos recentemente a Solenidade da Anunciação do Senhor, na qual recordamos o dia em que o anjo Gabriel anunciou à Virgem Maria que ela seria a mãe do Salvador do mundo, pela ação do Espírito Santo. Deus anuncia a vinda de um novo tempo para a humanidade, a vinda de Jesus Cristo.

Esta Solenidade é celebrada nove meses antes da festa do Natal. É o mistério da encarnação onde o amor infinito de Deus é derramado sobre o seu povo. Dessa maneira, a Igreja ressalta a humildade, o silêncio e a entrega da Virgem Maria, que disse “SIM” aos planos de Deus proclamando: “Eis aqui a serva o Senhor; faça-se em mim segundo a Tua Palavra!”. Com este “SIM” de Maria, a Salvação chegou aos homens e mulheres de todos os tempos.

Em seus ensinamentos São Lucas nos diz: “Maria conservava todas as palavras meditando-as no seu coração”. E eu? Sei silenciar para deixar o Espírito Santo falar em meu coração?

Hoje continuaremos refletindo em nossa caminhada penitencial sobre as últimas horas de Jesus antes da crucifixão. Peçamos o dom do silêncio interior para meditarmos cada hora que Jesus dedicou para nossa salvação.

Jesus na Prisão

Jesus foi traído por um de seus discípulos e preso em Jerusalém sem qualquer mandato de prisão, contrariando as leis romana e judaica. Quanto sofrimento Maria passou ao saber da prisão de Seu Filho pelos poderosos e doutores da Lei que incitavam o povo a cometer uma grande injustiça com o Salvador da Humanidade.

Qual seria minha atitude de mãe amorosa, participando deste martírio de traição, dores, violência e humilhação diante de meu filho?

Jesus é trazido diante de Pilatos

Pilatos, o governador da Judeia, ao ouvir as falsas acusações sobre Jesus, percebe um conflito político e religioso e transfere a responsabilidade da decisão ao rei Herodes. Muitas vezes, nos sentimos como Maria. Como é difícil ver as pessoas criticarem, julgarem e condenarem o nosso comportamento e o de nossos filhos, apenas pela aparência!

Quando era adolescente Jesus ficou perdido de seus pais, que o encontraram depois de três dias no templo ouvindo e interrogando os doutores da Lei. Todos ficaram maravilhados com a sabedoria de suas respostas. Maria ao vê-lo disse: “Meu filho que nos fizeste? Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição.”

Jesus revela sua identidade com o Pai celeste dizendo: ”Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar das coisas de meu Pai? (Lc.2,49). Mesmo não tendo compreendido, Maria acolhe em seu coração cheio de amor e de alegria pelo reencontro com seu Filho.

Vamos refletir: Sei guardar em silêncio os acontecimentos de minha vida, para mais tarde pedir o discernimento sob a luz do Espírito Santo?

Jesus diante do rei Herodes

O Rei Herodes despreza e zomba de Jesus devolvendo-o a Pilatos, sem sentença, porque não quer assumir a responsabilidade de um julgamento tão ilegal.

  • Diante decisões difíceis, somos omissos para não ficar mal perante os familiares e amigos?
  • Procuramos vencer a nossa índole má, quando alguém não é simpático conosco?
  • Procuramos sempre revelar Jesus em nossos gestos e atitudes?

Jesus evangelizava com parábolas, denunciava as injustiças, efetuava muitas curas e milagres. Maria O acompanhava. Ela orava, fazia silêncio intercedendo pelas necessidades de todos.

Numa festa de casamento em Caná, Maria atenta percebe a falta do vinho e fala a seu Filho: “Eles não tem mais Vinho”. Jesus diz: ”Minha hora não chegou”. Ela não discute, nem reclama, apenas fala para os serventes: ”Fazei tudo o que Ele vos disser”.
Devemos convidar Maria para estar ao nosso lado, principalmente durante a Quaresma, tempo de silêncio e de revisão de vida ajudando-nos a transformar a água de nossa vida espiritual no mais precioso vinho do Amor.

Em nossa vida agitada, temos tempo para o silêncio? Temos a sensibilidade de enxergar os necessitados, os sofredores que estão ao nosso lado precisando de nosso amor, de nossa atenção e de nosso ouvido para escutar seus lamentos?

Jesus é levado novamente a Pilatos e em seguida é flagelado

Pilatos não quer atrair a ira dos poderosos, políticos e religiosos, então, “lava as mãos” e pede ao povo escolher entre Jesus, que só fez o bem a todos e o criminoso Barrabás. Quando necessito fazer as escolhas certas em minha vida, peço ao Espírito Santo o dom da prudência, da sabedoria e do discernimento?

Nossa Senhora nos ensina com humildade e acolhimento que para nossa santificação é necessário conhecer as verdades divinas e no silêncio nos colocar em sintonia com o Senhor, atentos à sua Palavra para melhor escutá-la e vive-la. Ela é mãe silenciosa que ama, crê, sofre, espera e por isso seu exemplo de silêncio traz consigo uma carga evangelizadora superior a mil palavras.

Nos momentos de dor e de raiva sei silenciar e me acalmar pedindo a intercessão de Jesus e de Maria para enfrentar os dias maus e as noites traiçoeiras?

Peço para o Espírito Santo para me iluminar e interceder pelos meus irmãos que estão doentes e desempregados, neste período tão difícil de pandemia?

Gesto concreto: Rezar todos os dias para que o silêncio e a calma de Maria resplandeçam dentro e fora de mim e, que todos possam sentir isso quando estiverem perto de mim.