Sábado depois do I domingo da Paixão: De que modo devemos lavar os pés uns dos outros?
“Se eu, pois, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros” (Jo 13, 14)
Nosso Senhor quer que seu exemplo seja imitado pelos discípulos. Ele diz: “Se eu”, que sou maior que vós, pois sou Senhor e Mestre, “vos lavei os pés, também vós”, por muito maior razão, pois sois discípulos e servos, “deveis lavar os pés uns aos outros”. Noutra parte, lemos (Mt 20, 26): “todo o que quiser ser entre vós o maior, seja vosso servo… assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir”.
Segundo Agostinho, todo homem deve lavar os pés aos outros já corporalmente, já espiritualmente. É muito melhor e sem dúvida mais verdadeiro lavar os pés realmente; que os cristãos não desdenhem fazer o que o próprio Cristo fez: quando o corpo se inclina para os pés de um irmão, o sentimento de benevolência se ascende em seu coração. E se já se possuía este sentimento, ele é confirmado. Porém, se não lavamos realmente os pés uns aos outros, façamo-lo ao menos no coração. Ora, pelo lava-pés devemos entender a limpeza das faltas. Assim, portanto, lavemos espiritualmente os pés de nossos irmãos e, de todo coração, lavemos suas manchas.
Ora, isto se faz de três modos:
- Perdoando suas ofensas, segundo aquilo do Apóstolo (Cl 3, 13): “se algum tem razão de queixa contra o outros: assim como o Senhor vos perdoou a vós, assim também vós deveis perdoar aos outros.”
- Rezando pelos seus pecados: “orai uns pelos outros, para serdes salvos” (Tg 5, 16).
- O terceiro modo diz respeito aos prelados, que devem lavar os pés perdoando os pecados com a autoridade das chaves, conforme o Evangelho (Jo 20, 22): “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados.”
Podemos ainda dizer que, pelo lava-pés, o Senhor nos mostra todas as obras de misericórdia. Pois, quem dá o pão a quem tem fome, lava-lhe os pés; do mesmo modo, quem acolhe os viajantes, veste os nus e assim por diante, “tomando parte nas necessidades dos santos” (Rm 12, 13).
In Joan., XIII..
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
Título da obra em latim
MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES ANNI LITURGICI DIES DISTRBUITA, SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE
Recopilação e ordenação de FR. Z. MÉZARD O. P.
Produzido a partir do material disponibilizado em
http://permanencia.org.br/drupal/node/1769