Terça-feira depois do II domingo da Quaresma: A Paixão de Cristo causou a nossa salvação a modo de mérito
I. A Cristo foi dada a graça, não só como a uma pessoa singular, mas enquanto cabeça da Igreja, de modo que dele redundasse para os membros dela. Por isso as obras de Cristo estão para o mesmo e para as suas obras, assim como estão as obras de um homem constituído em graça para com ele próprio. Ora, é manifesto que quem, constituído em graça, sofre pela justiça, por isso mesmo merece para si a salvação, segundo a Escritura: «Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça». Por onde, Cristo, pela sua paixão, mereceu a salvação não somente para si mas também para todos os seus membros.
Em verdade, Cristo, desde o princípio da sua concepção, mereceu-nos a salvação eterna. Mas, de nosso lado, certos impedimentos constituíam um obstáculo a conseguirmos o efeito dos méritos precedentes. Por isso, a fim de remover esses impedimentos é que Cristo teve de sofrer.
E ainda que a caridade de Cristo não tenha aumentado mais na Paixão que antes, a Paixão de Cristo teve certo efeito que não tiveram os méritos precedentes; não por causa de uma caridade maior, mas pelo gênero da obra, que era concordante com esse efeito.
III, q. XLVIII, a. I
Os membros e a cabeça pertencem à mesma pessoa. Assim, uma vez que Cristo foi nossa cabeça pela divindade e plenitude de graça, que redunda para os outros, e que nós somos os seus membros, seu mérito não nos é estranho, mas redunda em nós pela unidade do corpo místico.
III Dist. 18, a. VI.
II. Deve-se saber que, apesar de Cristo ter, por sua morte, merecido suficientemente por todo o gênero humano, cada um deve procurar o remédio para sua própria salvação. A morte do Cristo é como uma causa universal de salvação, como o pecado do primeiro homem foi como uma causa universal de danação. Ora, é preciso que a causa universal seja aplicada a cada um especialmente, para que participe do efeito da causa universal.
Ora, o efeito do pecado dos nossos primeiros pais chega a cada indivíduo pela geração carnal; efeito da morte de Cristo, porém, pela regeneração espiritual, em virtude da qual o homem é, de algum modo, unido e incorporado em Cristo. E, por isso, convém que cada um seja regenerado por Cristo, e que receba tudo por que opera a virtude da morte do Cristo.
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
Título da obra em latim
MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES ANNI LITURGICI DIES DISTRBUITA, SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE
Recopilação e ordenação de FR. Z. MÉZARD O. P.
Produzido a partir do material disponibilizado em
http://permanencia.org.br/drupal/node/1769